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O valor da Psicologia Jurídica na Vara de Família: quando a ciência contribui para decisões mais humanas

  • Foto do escritor: Bethania Lopes
    Bethania Lopes
  • 17 de set.
  • 3 min de leitura

Na Vara de Família, cada processo é mais do que páginas carimbadas. Ali, não estão apenas nomes e documentos: estão vidas que se cruzaram, afetos que se romperam, crianças que esperam cuidado, adultos que tentam reorganizar histórias partidas. É um espaço onde o Direito precisa lidar com a complexidade do humano.

Mas como traduzir em linguagem jurídica o que é feito de emoções, vínculos, memórias e traumas? Como decidir sobre a guarda de uma criança sem olhar para além do papel assinado? Como medir os efeitos de uma separação conflituosa apenas por depoimentos fragmentados?

É nesse ponto que a Psicologia Jurídica se torna essencial. Não como acessório, mas como ponte: entre a letra da lei e a realidade emocional das pessoas. Entre o que está escrito no processo e o que pulsa no coração de quem está nele.

A Psicologia Jurídica é a escuta daquilo que não cabe em artigo de lei. Na Vara de Família, sua função não é julgar, mas revelar. Revelar os impactos emocionais de uma separação, os efeitos da ruptura nos vínculos, os silêncios que uma criança carrega quando é colocada no meio de um conflito.

Enquanto o Direito organiza o que é permitido ou proibido, a Psicologia traz à tona aquilo que se vive no íntimo — e que pode ser decisivo para uma decisão justa. Ela não substitui a lei, mas dá a ela profundidade.

Não é sobre escolher lados, é sobre compreender realidades. Não é sobre rotular pessoas, é sobre traduzir comportamentos, contextos e emoções em linguagem técnica, para que juízes e advogados possam enxergar o que muitas vezes passa despercebido.

Na prática, a Psicologia Jurídica na Vara de Família é um espaço de mediação entre dor e justiça. E, em casos que envolvem crianças e adolescentes, isso significa colocar em primeiro lugar o que deveria ser inegociável: o direito ao cuidado e ao desenvolvimento saudável.

Na Vara de Família, a Psicologia pode aparecer de duas formas. Às vezes, é o juiz quem chama o psicólogo para avaliar a situação e oferecer um laudo. Outras vezes, é a própria parte — junto do seu advogado — que busca um profissional para dar suporte técnico e sustentar o processo com outro olhar.

Um papel observa de fora, com neutralidade, em nome da justiça. O outro entra mais perto, questiona, aponta falhas, traz contrapontos, defende. E, quando esses dois olhares se encontram, o processo deixa de ser apenas um embate jurídico e passa a ser também uma busca por compreensão.

Imagine uma criança no meio da disputa de guarda, sem saber se pode amar livremente pai e mãe. Ou um adolescente pressionado a rejeitar um dos genitores porque o outro assim deseja. Ou ainda uma separação tão conflituosa que transforma o lar em território de guerra.

São nesses cenários que a Psicologia mostra sua força.

Ela ajuda a identificar o que está escondido nos gestos, no silêncio, nas falas truncadas.

Ela dá nome ao que a lei não consegue nomear: medo, manipulação, vulnerabilidade, afeto.

E quando uma parte tem ao lado alguém que olha para essas nuances com sensibilidade e técnica, a defesa não se apoia apenas em argumentos legais, mas em algo maior: a proteção do que é humano.

Não é sobre opiniões. Não é sobre quem grita mais alto. É sobre compromisso.

Cada palavra escrita em um parecer ou laudo pode mudar o destino de uma família inteira. Por isso, a ética é o chão firme da Psicologia Jurídica. Sem ela, o trabalho vira palpite. Com ela, vira referência.

E ética aqui significa clareza, responsabilidade e respeito. Significa lembrar que, no fim das contas, existe uma criança lendo esse processo com os olhos do futuro. E que nós, profissionais, precisamos estar à altura dessa responsabilidade.

Conclusão: Justiça com humanidade

Na Vara de Família, não existem apenas processos: existem histórias. Histórias de amor e de ruptura, de vínculos e de afastamentos, de dores que a lei sozinha não consegue nomear.

É por isso que a Psicologia Jurídica é tão necessária. Ela não está ali para escolher lados, mas para iluminar realidades. Para dar voz a crianças silenciadas, para traduzir dores em linguagem técnica, para oferecer ao juiz e aos advogados mais do que papéis — oferecer compreensão.

E, quando há uma assistência técnica atuando ao lado da perícia, o processo ganha equilíbrio. As partes se sentem mais protegidas, os advogados mais fortalecidos e, acima de tudo, as crianças menos expostas a injustiças.

Porque, no fim, o que está em jogo não são apenas direitos: é a vida emocional de quem ainda está aprendendo a viver.


Um parecer fundamentado pode ser decisivo para proteger vínculos.

 
 
 

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© 2035 por Bethânia Lopes | Psicóloga clínica | Perita Judicial e Assistente Técnica

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